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3 Perguntas Para Rosa Freire D’Aguiar, viúva de Celso Furtado

Personalidade central da primeira edição da série Encontros com a História em Casa, de 2021, com a live Correspondência Intelectual de Celso Furtado, na quinta-feira, dia 15,às 15h, no Canal do MAST no YouTube, o economista Celso Monteiro Furtado (1920-2004) foi um dos maiores intelectuais do século XX e responsável por contribuir para o pensamento econômico e social do país. Ele deixou cerca de 15 mil correspondências trocadas com mais de 80 intelectuais brasileiros e estrangeiros, de diferentes correntes de opinião. A live contará com a especial participação da jornalista e tradutora Rosa Freire D´Aguiar, viúva de Celso Furtado, encarregada da organização dos livros Diários Intermitentes de Celso Furtado – 1937-2002 e Celso Furtado – Correspondência Intelectual 1949-2004, que nos presenteia com este bate-papo relâmpago.

  1. Como foi este trabalho hercúleo de selecionar quase 300 cartas para o livro Correspondência Intelectual – 1949-2004?

De fato, o Celso deixou uma correspondência muito grande, de 15 mil cartas, mais ou menos. Eu fiz uma contagem bastante correta. Foi uma viagem andar por estas cartas e ir lendo, pouco a pouco. Muitas delas são manuscritas e eu tive que ir decifrando as letras de muitos correspondentes.

Mas, é um trabalho maravilhoso. Levei um ano e tanto, fazendo. Eu brinco, dizendo que virei cartomante, porque eu lia cartas o dia inteiro. O trabalho compensou e está muito bonito o livro. Eu recomendo que a nova geração leia para saber a quantidade de pessoas, de brasileiros, de intelectuais e políticos que pensaram o país e que estavam tão interessados em termos um país melhor

  1. Para estruturar o conteúdo do livro Diários Intermitentes – 1937-2002, a senhora pesquisou em anotações deixadas por Celso Furtado em cadernos, agendas e folhas avulsas produzidas em mais de 60 anos. Como foi o desafio de organizar este acervo tão vasto quanto rico, que contém variados temas, como impressões de viagens a países distantes e a participação na Segunda Guerra Mundial?

Quando fiz os ‘Diários Intermitentes’, no final de 2019, eu tive a grata surpresa de descobrir vários cadernos de Celso. Conheci alguns diários dele, da época da guerra, onde Celso esteve em 1944 e 1945, como Pracinha. Ele era muito jovem e tinha acabado a Faculdade de Direito. O Celso deixou muitas anotações sobre o que foi a guerra, que são muito interessantes. Conheci também alguns diários dele, que eram um pouco sobre como era a vida cultural no Rio de Janeiro, onde ele fez a Faculdade de Direito.

Pouco a pouco, fui descobrindo outros diários com anotações. Não posso dizer que ele fosse um ‘diarista’, mas escreveu os diários em momentos importantes da vida dele, sobre os encontros, as pessoas que ele encontrou. Ele fez perfis fantásticos de personalidades francesas, brasileiras e latino-americanas. Este material é muito rico e mostra uma espécie de anotações de quem foi observador e de quem foi ator dos acontecimentos da segunda metade do Século XX.

  1. Por falar em acervo, Celso Furtado deixou mais de 30 livros escritos, a exemplo do clássico e celebrado título Formação Econômica do Brasil, de 1959. A obra autoral do economista já foi totalmente digitalizada?

A obra de Celso é, de fato, bastante vasta. Ele deixou mais de 30 livros escritos. Eu diria que desses, talvez a metade mantenha uma impressionante atualidade. Celso não escrevia, digamos, muito voltado para a atualidade, mas num nível um pouco mais teórico, mais abrangente. Ele navegou por várias outras disciplinas das Ciências Sociais. Escreveu muito sobre a Cultura e sobre a História, a primeira paixão da vida dele. Ele tinha uma cabeça muito interdisciplinar e escrevia sobre vários problemas, sempre vistos de vários ângulos. Era um pouco a marca da reflexão dele.Sobre a digitalização da obra, não se pode fazer isto. A obra é protegida, como você deve saber, pela Lei dos Direitos Autorais e só cai em domínio público 60 anos depois da morte do autor. Celso morreu em 2004: portanto, só em 2064 é que a obra cairá em domínio público. Até lá, a obra estará protegida pela Lei dos Direitos Autorais com as editoras e os familiares.