Registros em Sobral

Os objetivos científicos que levaram a expedição brasileira a Sobral, a fim de observar o eclipse total do Sol de 29 de maio de 1919, centravam-se no conhecimento da coroa solar. Uma ferramenta poderosa nesses estudos era a fotografia, que nessa época utilizava placas de vidro como suporte das imagens. O próprio Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, era um fotógrafo habilidoso e experiente.

Para obter as fotografias astronômicas, as câmeras fotográficas foram acopladas a diferentes instrumentos, como lunetas e espectroscópios, que, assim como as câmeras, hoje integram o acervo museológico do Museu de Astronomia e Ciências Afins.

Além da coroa solar, os brasileiros também registraram o acampamento brasileiro em Sobral, na Praça do Patrocínio, onde se pode ver os abrigos construídos para proteger os instrumentos da chuva e da poeira. Essas imagens revelam o cotidiano do trabalho científico realizado em campo, longe dos recursos do observatório e de uma cidade grande. Assim como no caso das fotografias astronômicas, as placas de vidro originais permanecem sob a guarda e aos cuidados do Observatório Nacional.

A seguir, podem ser vistas imagens das placas fotográficas obtidas pela expedição brasileira enviada a Sobral, assim como dos instrumentos por ela utilizados. Também podem ser vistas reproduções da documentação gerada pela expedição, durante sua organização e no apoio à expedição inglesa que veio ao Brasil comprovar a teoria da relatividade. Os documentos originais encontram-se depositados no Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins.

Imagens da Expedição

As placas do cotidiano revelam a rotina do trabalho dos astrônomos em campo e as condições meteorológicas no momento do eclipse.

As placas fotográficas também foram utilizadas para registrar o dia a dia da população. Pessoas, monumentos, eventos, a natureza. Enfim, tudo era registrado neste dispositivo, que foi usado por mais de um século para guardar os momentos importantes da história das sociedades.

Imagens do Eclipse

As observações foram realizadas com o telescópio refrator astrográfico do construtor Mailhat, com 15cm de abertura da objetiva e 8m de distância focal, conjugado com um celostato (conjunto de espelhos planos que permitem registrar a imagem refletida do Sol sobre uma placa fotográfica). Foram feitas sete placas com dimensão de 18 x 24cm.

As imagens sobre as placas foram obtidas quando o disco da Lua encobriu totalmente o disco do Sol, momento que se iniciou às 8h55, hora local, do dia 29 de maio de 1919. Durante 5 minutos e 13 segundos foi possível registrar o fenômeno.

Imagens do Espectro do Sol

Além de participar no apoio e na organização das observações do eclipse, a equipe brasileira fez observações da coroa solar usando um espectrógrafo, equipamento que faz o registro fotográfico das várias "cores" (frequências) que compõem a luz emitida pela fonte (no caso, o Sol).

O espectrógrafo é um equipamento que realiza o registro fotográfico de um espectro luminoso. Foi utilizado pela expedição brasileira para observar e analisar a composição química da coroa solar. As "faixas" nas placas fotográficas representam a observação da região da coroa solar.

Instrumentos

As duas principais lunetas levadas pela expedição brasileira a Sobral tinham o objetivo de fotografar a coroa solar. A maior delas, do fabricante Mailhat, possuía uma objetiva de 15cm e 8m de distância focal. A menor, de Steinheil, possuía 10cm de diâmetro e distância focal de 1,5m.

Além das lunetas, os brasileiros levaram consigo três espectrógrafos do fabricante Hilger, o maior deles com prisma de quartzo, e os demais com prisma de vidro Flint, todos acoplados a câmeras fotográficas e acompanhados dos respectivos espelhos (heliostatos), usados para redirecionar os raios da luz solar. Esse acervo, de valor inestimável, encontra-se sob a guarda do Museu de Astronomia e Ciências Afins.

Documentação

No segundo semestre de 1917, Henrique Morize realizou um levantamento de dados meteorológicos de localidades situadas na faixa da totalidade que cortava o nordeste do Brasil. Sua análise apontou para a cidade de Sobral.

Essa circulação de informações entre Morize e astrônomos de diferentes nacionalidades foi realizada através de uma intensa troca de cartas, que hoje encontram-se depositadas no Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia. No Arquivo também estão os manuscritos de alguns estudos científicos realizados pelos brasileiros com base nas fotografias obtidas durante o eclipse de 1919.